quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Prypiat

Antes de entrarmos nos helicópteros perguntaram se nós queríamos mesmo passar por aquela experiência. Segundo o guia o primeiro grupo que visitou Prypiat acionou o transporte 15 minutos após desembarcarem na cidade, alguns alegaram ter sentido sensações estranhas e ter visto coisas que não estavam ali, mas todos concordam que o que mais dava arrepios era o silêncio.
- Ah, nada a ver, isso é paranóia só por quê a cidade é pura radioatividade. – Disse Rafa, meu irmão num tom irônico.
Vestimos nossas roupas e nos deram um pequeno aparelho com um botão vermelho para perdurar na cintura.
- Basta apertar o botão vermelho, quando a luz começar a piscar significa que o transporte já estará a caminho para buscá-los, e se vocês forem corajosos o suficiente para permanecer durante as oito horas em Prypiat, esse mesmo controle vai piscar e vibrar 45 minutos antes da partida para que vocês possam chegar à praça central, mesmo lugar onde desembarcarão em poucos minutos.
Meu irmão como bom mulherengo que é, foi cantar a guia do nosso helicóptero.
- Desde quando você trabalha de guia pra levar esses malucos pra Prypiat?
- Não faz muito tempo, e também não vai durar, depois de um tempo eles te mandam embora por causa do risco, sabe como é né, radioatividade é muito sério.
- Mas porque você trabalha com algo tão perigoso? Você podia ser modelo sabia!
Ela riu sem graça.
- É difícil conseguir turistas pra levar a uma cidade fantasma, quando surge a oportunidade eles pagam muito bem. – Disse a guia enfatizando o “muito”. – Além do mais, eu nasci no ano do acidente ali mesmo em Prypiat, minha vida está aqui.
- Mas você é tão nova, por quê tem tantos cabelos brancos.
- Césio 137 - Disse ela virando o rosto.
E logo a guia nos contou a história da cidade.
- Prypiat, tinha 55.000 habitantes e foi evacuada da noite pro dia por causa do acidente com a Usina Nuclear de Chernobyl, em 1986. Os moradores não tiveram tempo de levar nada, só a roupa do corpo e uma mala com pertences. A região ficará inabitada por seres humanos pelos próximos 300 anos e a cidade se tornou um imenso museu a céu aberto desde o dia do acidente...
Enfim chegamos a tão sonhada cidade fantasma, peguei minha câmera e começamos a andar, haviam mais três amigos nos acompanhando, Guti,Leela (o casal) e Ed.

Era realmente assustador todo aquele silêncio, veículos abandonados, e as bonecas jogadas no chão pareciam te observar, estudar cada movimento seu. Confesso que durante os primeiros 40 minutos estava tranqüila, mas depois disso a radioatividade parecia tomar conta de mim, tentei não me preocupar e tirar minhas fotos.
Rafa também mudou um pouco, ele parecia conectado as coisas, “paranóia pura” foi o que pensei.
Todo aquele silêncio era pertubador, a cidade há muito morta parecia roubar a vida que havia dentro dos visitantes comovidos ao ver pertences abandonados nas ruas, toda aquela sujeira, ferrugem, destruição eram um retrato do pânico, e esse eu tinha certeza que não abandonara nunca Prypiat.

Continua (?)

Só para loucos - Ventania

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

G.


Nasci para ser um artista, daqueles sempre polêmicos, sempre inovando e quebrando tabus, daqueles boca-suja como a mestre Dercy, que no decorrer de um século passou de escandalosa e mal-educada à cultura.
Nasci à frente de meu tempo, apesar de ainda concordar com valores do passado. Acredito em um Deus pois acho que essa é a melhor maneira de medir o egocentrismo e não se autodeclarar o próprio.
Nasci com o coração já atormentado pelas mazelas da vida, pela melancolia da solidão, pelo sentimento de tristeza gasto de tanto chorar, nasci entediado.
Nasci embriagado, que no ventre de minha mãe se formava um monstro sem amor, com meus olhos negros como meus sentimentos e minha crueldade crônica.
Nasci com ódio de mim mesmo, de ser um otário, vazio e incapaz.
Cresci regado à Whisky e sempre ao som de um tão sofrido blues que dói na alma de quem me observa lá, sentado em minha poltrona preta, com os olhos cerrados e meu dedo percorrendo a boca de meu copo.
Aprendi que na vida você é só, e nada pode mudar isso.
E vivo assim, sozinho, com uma boca suja e entediado até os ossos.


Piece of my heart - Janis Joplin

domingo, 5 de outubro de 2008

Conversas de Domingo

Na casa da minha avó. Ela não aceita que eu queira (ou pelo menos queria) ser jornalista. Problema é dela, eu faço o que quero oras.
Eu já pensei em seguir várias carreiras como Educação Física até Gastronomia.
Meu primo C.H. (que é gago) não tem idéia do que prestar o vestibular e então começa a polêmica na cozinha.
Tio: E aí cabeção, vai prestar o vestibular pra quê?
H.: Aa-ainda não sei.
Tio: Tu é burro hein muleque.
H.: Eu q-quero ser fo-fonoaudiólogo (Ele disse de brinks).
Todo mundo: HAHAHAHAHAHA
Eu: Se o rique for fonoaudiólogo eu sou psicóloga, imagina só como eu ia atender a paciente.
Minha mãe: Você ia falir feiosa.
Eu: "Doutora, ele me traiu!"
"Ah minha filha, larga esse viado, filho de uma rameira, arrombado, e cata outro ué, cadê a dificuldade?"
"Mas eu o amo!"
"Foda-se, você quer levar chifre pelo resto da vida? Sua corna mansa, te situa! Mongolzona. Váá ser burra assim lá longe."

É, como psicóloga eu sou uma boa fotografa.
Fica de boa aí vózinha.
Makes me wonder - Maroon 5